Bana começou a sua carreira quando Cabo Verde era um território colonial português, enquanto trabalhava como guarda-costas e moço de recados do compositor e intérprete B. Leza." Oriundo de famílias humildes, órfão dos pais aos 13 anos, cedo teve que começar a lutar pela vida, tendo trabalhado como estivador no Porto Grande do Mindelo. Aos 20 anos, a tropa dar-lhe-ia uma oportunidade de cantar no Rádio Clube do Mindelo. Os cabo-verdianos adoram e, desde então, tornou-se uma das vozes masculinas emblemáticas e mais admiradas do pais onde o MAR É A MORADA DA SAUDADE
Em
1959, é descoberto por elementos da Tuna Académica de Coimbra, entre os quais
estava Manuel Alegre . Fixa-se, em Portugal, dez anos depois – E é, aqui, que se
torna um dos mais populares embaixadores da música da sua terra – E também o
artista providencial para a reafirmação dos músicos e das mornas e coladeras cabo-verdianas.
Conheci-o, em S.Tomé, creio
que nos finais dos anos sessenta ou nos princípios da década 70, numa
extraordinária atuação no Cinema império. Depois, em Portugal, onde Bana viria fixar-se «Câ tem ôte moda Lisboa. Nôs Terra
d’adoçon». («Não há outra igual à
Lisboa. É nossa terra de adopção» - Entrevistei-o, por várias vezes para a Rádio
Comercial - Sempre amável, despido de toda vaidade, falando da mesma maneira, fosse para quem fosse - Com o humanismo e a simpatia, que lhe era própria, sem subviências mas também sem qualquer gesto de sobranceria.
Bana trouxe os sons de
Cabo-Verde e também os melhores músicos e a própria Cesária Évora. De facto, há
vidas, verdadeiramente proféticas: se não existissem, tinham de ser inventadas.
Mas encarregou-se o destino de no-las oferecer
“O contributo de Bana
para a música de Cabo Verde não se fica apenas pelos discos. Por sua
iniciativa, foram vários os músicos que saíram das ilhas para se instalar na
capital portuguesa, abrindo assim novos horizontes e dando início a carreiras
musicais notáveis.
Nomes como Paulino Vieira, Armando Tito, Leonel Almeida,
Bebeto, Kabanga, nos anos setenta, e Toi Vieira, Tito Paris, Manuel Paris, Toy
Paris, Vaiss, Cesária Évora, nos anos oitenta, chegaram a Lisboa por iniciativa
de Bana.
Os primeiros vieram para
acompanhar o cantor nas muitas digressões que na época fazia pela Europa,
integrando a segunda fase do conjunto Voz de Cabo Verde.
"Na época fazíamos
digressões para a Guiné e Holanda; tocávamos em Cascais, na antiga FIL (Feira
das Indústrias de Lisboa), e certa vez tocámos para 15 mil pessoas no Palácio
de Cristal, no Porto", recorda Leonel Almeida.
As fotos deste último
espectáculo, em 1975, serviriam para ilustrar uma das capas dos discos de Bana.
"Tínhamos estado em França, Luxemburgo, Holanda, Espanha, entrámos pela
fronteira de Vilar Formoso e fomos para o Porto. Um espectáculo inesquecível!"
Em Lisboa, Bana actuava em restaurantes como o
"Andaluz", propriedade de um santantonense de nome Cândido, passando
depois para o "Novo Mundo", na Rua do Sol ao Rato, onde também
passariam a tocar outros músicos e artistas cabo-verdianos.
Bar restaurante Monte-Cara
Este último restaurante
dá lugar ao restaurante-dancing Monte Cara e Bana torna-se no gerente, ao mesmo
tempo que funda uma editora com o mesmo nome, nos finais dos anos setenta. Aqui
gravaria vários LP da sua carreira, abrindo também as portas da editora a
outros artistas de Cabo Verde, como Dany Silva e Celina Pereira.
"O Monte Cara passou
a ser uma espécie de quartel-general para os músicos cabo-verdianos",
conta Leonel Almeida. A gastronomia da terra - numa época em que havia poucos
restaurantes crioulos em Lisboa - e a música ao vivo, onde actuavam Tito Paris
e os irmãos, Vaiss, Toi e Paulino Vieira, na cave, atrai cada vez mais
admiradores cabo-verdianos e portugueses curiosos.
Nos anos oitenta, o local
passou a ser mais conhecido como "Bana" e era o local de passagem
para artistas portugueses como Rui Veloso, Janita Salomé, Vitorino, Marina
Mota, e personalidades da televisão, do cinema e do teatro. Noites musicais
memoráveis ficaram registados, como as actuações de Paulino Vieira, ao piano, e
de músicos como Júlio Pereira, no restaurante.
A própria diva Cesária
Évora fez parte deste último lote de artistas trazidos por Bana, chegando a
actuar neste espaço, onde o empresário José "Djô" da Silva acabaria
por a descobrir.
Artista e empreendedor
"Graças ao Bana,
muitos portugueses tiveram o primeiro contacto com a cachupa e a música
cabo-verdiana", diz o pintor António Firmino.
Por seu lado, Celina
Pereira considera
o cantor "o maior empreendedor da música de Cabo Verde
em Portugal, pelo seu trabalho e pelos músicos que trouxe para Lisboa."
"O Bana pertence a
uma época diferente e é pena que não tenha podido beneficiar de um marketing
que o levasse para 'outras galáxias'", afirma a cantora.
O espaço mítico da Rua do
Sol ao Rato mudou de nome nos anos noventa, passando a chamar-se Africa's, Pilon
2 e, por fim, En'Clave. E no momento em que Bana celebra os seus 80 anos de
vida, o histórico local encontra-se, infelizmente, encerrado por ordem da ASAE,
por falta de condições de segurança.Extraído de Bana,
80 anos: De artista a maior divulgador da música crioula em ...
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