Não sendo católico, o fenómeno de Fátima sempre me intrigou - Um mês antes de adoecer dirigi-lhe uma singela missiva
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Ainda em vida da Vidente Irmã Lúcia, mandei-lhe uma singela carta, através da qual lhe descrevi alguns episódios da minha vida - (...) - um deles bem dramático, em que, num dia, desses meus verdes anos, a 13 de Maio, de 1966, caí a um poço, barrento e fundo, e me ia afogando com a minha irmã. Também lhe falei das minhas aventuras marítimas, juntamente com o envio de algumas imagens, como preito de homenagem e testemunho da minha mais profunda admiração, pela sua estóica vida, toda ela dedicada ao culto da sua fé . Desejava-lhe muitos anos de vida, mas no mês seguinte, adoeceu e partiu, certamente, de olhos postos na imagem que tanto venerava. Porém, sei que a missiva lhe foi entregue, que a recebeu. Guardo a cópia do manuscrito e o impresso do registo, com muito carinho.
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Publiquei a carta que dirigi à irmã Lúcia no jornal do meu concelho: seja-se ou não crente, há que admirar uma vida de clausura, de fé e despojamento, completamente entregue à meditação e oração. Eu não sou propriamente católico mas idenfitico-me com muitos dos seus valores: gosto das suas orações, cânticos religiosos e liturgia sagrada - Há outros aspectos em que a minha aproximação com o divino, se faz de forma diferente- Mas, no fundo, o caminho e os objectivos são os mesmos - Eis o excerto do texto e da dita carta que enviei a Lúcia:
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CARTA À IRMÃ LÚCIA
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“Lisboa, 18 de Outubro de 2004.
À vidente Irmã Lúcia:
Tomo a liberdade de lhe enviar esta minha simples carta, acompanhada do relato e fotos de uma odisseia, por mim vivida nos agitados mares do grande Golfo, tendo apenas por companhia uma simples bússola para me orientar.
Sim, dirijo-lhe estas linhas e a descrição dessa aventura, como preito da minha homenagem e a expressão da minha mais profunda admiração, porque vejo em si a representação de um espírito abençoado, pelo que só peço a Deus que lhe dê muita saúde e ainda muitos anos de vida.
A minha saudosa irmã Conceição, que Deus levou muito nova, deixando então duas filhinhas, tinha uma grande devoção em Nossa Senhora de Fátima. E o episódio que lhe vou recordar , ilustra ,justamente, esse facto, quando eu tinha onze anos e ela 15 .Foi a um domingo, dia 13 de Maio. Regávamos a nossa horta no Vale Cardoso. Ela retirava a água do poço com ajuda do picanço; eu estava uns metros mais abaixo para afastar a vara e o caldeiro de uma pedra. Nisto, o picanço rebenta, ela cai e arrasta-me consigo para o fundo do poço. Este era fundo e com margens barrentas. A nossa aflição, como deverá calcular, era enorme. Nenhum de nós sabia nadar. Quando vinha ao decima, ela gritava por Nossa Senhora de Fátima; eu gatinhava junto à margem, estava aterrorizado e apenas cerrava a boca para evitar engolir mais água. O meu irmão Fernando, então com nove anos, que encaminhava a água, apercebendo-se, corre em nosso auxílio. A minha imã grita-lhe para ir buscar uma cana e para descer até um tufo de juncos que havia na margem, e é o que faz sem perda de tempo. Estende-lhe a cana, ela agarra-se à mesma e consegue gatinhar pela íngreme vareda. Depois, estende-me a mão e salva-me também.
Creia, já passaram muitos anos, mas a imagem está ainda muito presente na minha memória. E, sempre que me ocorre, a primeira coisa que me vem à ideia, são os apelos à Nossa Senhora de Fátima, pois não tenho a menor dúvida de que ela, nesse dia, nos protegeu.
(....) Aceite, pois, muito humildemente, o preito da minha mais profunda admiração”
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