António Ramos Rosa , nasceu em faro, a 17 de Outurbo de 1924 - Faleceu no passado dia 23 de Setembro. Completaria hoje , 89 anos, se fosse vivo. Mas não foi esse o destino que os seus versos lhe reservaram nos céus - Quiseram que partisse com a chegada do Outono - Ou não será essa a estação do ano mais inspiradora dos poetas? ...Sim, porque, sabe-se lá se por um gesto premonitório, eis porque lhe foi prestada uma singela homenagem, por iniciativa do autor destas linhas, a que aludi noutra postagem, junto ao altar sacrificial de um majestoso calendário solar pré-histórico, justamente na celebração do Equinócio do Outono, ou seja, na véspera da sua partida para a eternidade .
Pois bem: de novo aqui estou, recordando esse grande poeta e saudoso amigo, que me deu o prazer de me receber, por várias vezes em sua casa, algumas das quais no dia do seu aniversário - E hoje até poderia ser um desses dias, se fosse vivo - Porém, não foi isso que estava escrito nas constelações, nas mais longínquas nublosas que fazem parte do seu léxico poético
SIM, PORQUE...
Há momentos em que
a consideração da morte de impõe como a consumação prévia da finitude, uma
espécie de coroação interna num vácuo de aspirações e de projectos. Inverte-se
assim o movimento natural do ser para a vida e a sua tensão para o futuro, mas,
na extrema negatividade, é ainda uma plenitude que se procura, a plenitude
negativa, a plenitude do vazio na cratera negra da negação aceite e assumida
como possibilidade última mas também primeira porque a partir da redução do
zero. O ser constrói-se ou tenta construir-se no reduto que lhe resta após
tantos assaltos e agressões internas e exteriores. A imaginação da morte é
incapaz de figurar a inimaginável destruição mas a sua ponderação pode
fortificar uma afirmação negativa do ser como único na sua projecção
circular e incessante em torno do núcleo que é ele próprio e fecha e o
alvo da imóvel viagem da existência.
Morreu um poeta mas não a sua palavra -
IMPOSSÍVEL
GRITO
Se eu
pudesse caminhar com palavras lentas sóbrias
E se eu pudesse falar-te ou gritar
Como um vento selvagem
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar
Aqui onde escrevo e nada principia
Aqui onde o embate é nulo contra o bloco
Onde se cerra o muro onde a ferida não fala
Nenhum impulso emerge do ilimite vazio
Nenhum punho se ergue entre as pregas do abismo
Se escrevo ou falo ainda é o mutismo que fala
Se olho é através de um não olhar
Se prossigo sei que a minha sede é vã
Onde estou é aquém de toda a origem
Onde estás é além de todo o encontro
E todavia escrevo terminando onde escrevo
Sem o gérmen que abriria o diálogo da água
Sem a dissonância viva de quem está ainda algures
Emparedado
E crê que um grito alguém ainda o ouviria
E todavia se escrevo é porque talvez espere
Avançar entre os muros para uma praia secreta
Que um sinal ilumine este deserto de cinza
Que uma pergunta abale este bloco inamovível
Se eu pudesse falar-te através desta espessura
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar
Oh quem pudera gritar como o vento selvagem
Quem pudera desatar o nó oculto sempre
O nome oculto sempre!
Fui eu que enterrei o meu nome sob a pedra
Fui eu que me enterrei para sempre sob o nome
Todo em mim é ausência ou um contacto vão
Por isso tu não me vês e eu não te vejo a ti
Mas se eu te escrevo ainda estas palavras nuas
Estas palavras mais pobres do que a sombra vazia!
Não será este caminho uma forma do grito?
Aqui onde escrevo algo principia
Aqui o embate contra um bloco negro
Aqui se abre um muro aqui a ferida fala
Aqui designo a pedra da asfixia
A forma desgarrada de um grito flutua
(António Ramos Rosa)
E se eu pudesse falar-te ou gritar
Como um vento selvagem
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar
Aqui onde escrevo e nada principia
Aqui onde o embate é nulo contra o bloco
Onde se cerra o muro onde a ferida não fala
Nenhum impulso emerge do ilimite vazio
Nenhum punho se ergue entre as pregas do abismo
Se escrevo ou falo ainda é o mutismo que fala
Se olho é através de um não olhar
Se prossigo sei que a minha sede é vã
Onde estou é aquém de toda a origem
Onde estás é além de todo o encontro
E todavia escrevo terminando onde escrevo
Sem o gérmen que abriria o diálogo da água
Sem a dissonância viva de quem está ainda algures
Emparedado
E crê que um grito alguém ainda o ouviria
E todavia se escrevo é porque talvez espere
Avançar entre os muros para uma praia secreta
Que um sinal ilumine este deserto de cinza
Que uma pergunta abale este bloco inamovível
Se eu pudesse falar-te através desta espessura
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar
Oh quem pudera gritar como o vento selvagem
Quem pudera desatar o nó oculto sempre
O nome oculto sempre!
Fui eu que enterrei o meu nome sob a pedra
Fui eu que me enterrei para sempre sob o nome
Todo em mim é ausência ou um contacto vão
Por isso tu não me vês e eu não te vejo a ti
Mas se eu te escrevo ainda estas palavras nuas
Estas palavras mais pobres do que a sombra vazia!
Não será este caminho uma forma do grito?
Aqui onde escrevo algo principia
Aqui o embate contra um bloco negro
Aqui se abre um muro aqui a ferida fala
Aqui designo a pedra da asfixia
A forma desgarrada de um grito flutua
(António Ramos Rosa)
O jovem que um dia queimou os versos que
escreveu é agora poeta maduro, reconhecido pela obra e admirado pela forma como
transforma palavras em versos.
António Vítor Ramos Rosa nasceu em Faro em 1924. Mudou-se para Lisboa logo após
a II Guerra Mundial. Deu aulas de Português, Francês e trabalhou como empregado
de escritório. Cedo abandona o emprego, para se dedicar inteiramente à
actividade literária.
Ensaísta e tradutor, diz que escreve pela necessidade de quem procura um espaço
de libertação. Foi fundador de várias revistas e muitos dos poemas que escreveu
estão publicados fora de Portugal.
Ramos Rosa é autor de uma obra com dezenas de títulos, iniciada em 1958. Entre
os vários prémios que recebeu destacam-se o Prémio Pessoa, em 1988, e o Grande
Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (APE), no ano seguinte.
Este ano, foi galardoado com o prémio de poesia do PEN Clube Português pelo
livro "Génese".
.
-O escritor,
galardoado esta semana com o prémio de poesia do PEN Clube português pelo livro
"Génese", será homenageado com o espectáculo coreográfico "
Rosa de Papel".
A sessão comemorativa inclui ainda uma mesa redonda, com a presença do autor e dos escritores Urbano Tavares Rodrigues, Gastão Cruz, Casimiro de Brito, João Rui de Sousa, Hélia Correia e Pedro Mexia. Nesta cerimónia, que decorrerá no teatro D. Maria II, em Lisboa, serão interpretados dois poemas de Ramos Rosa por Amélia Muge e lançado o nono número da revista "Textos e Pretextos" inteiramente dedicado ao poeta. A revista é editada pelo Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
(…) Entre
os vários prémios que já recebeu destacam-se o Prémio Pessoa, em 1988, e
Grande Premio da Associação Portuguesa de Escritores (APE), no ano seguinte. – Excerto Teatro Nacional D. Maria
II presta homenagem ao poeta Ramos Rosa
|
NOTÍCIA DA SUA MORTE
Além da sua vastíssima
obra poética, escreveu livros de ensaios que marcaram sucessivas gerações de
leitores de poesia, como Poesia,
Liberdade Livre (1962) ou A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979), traduziu
muitos poetas e prosadores estrangeiros, sobretudo de língua francesa, e organizou uma importante antologia de
poetas portugueses contemporâneos (a quarta e última série das Líricas Portuguesas). Era ainda um
dotado desenhador.
Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa, natural
de Faro, recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários
portugueses e vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como
tradutor. – Excerto de António Ramos Rosa (1924-2013),
uma vida dedicada à poesia .
Todas as imagens são do autor deste site
OUTRAS POSTAGENS DEDICADAS AO POETA
23 de Setembro 2013 - António Ramos Rosa - Morreu o Poeta da
Festa do Silêncio que se fez Felicidade do Ar e da Luz http://www.desoculto.com/2013/09/antonio-ramos-rosa-morreu-o-poeta-da.html
21 DE JANEIRO DE 2013 ANTÓNIO
RAMOS ROSA - UM CAMINHO DE PALAVRAS http://www.desoculto.com/2013/01/antonio-ramos-rosa-um-caminho-de.html
22 de Outubro de 2011 -
ANTÓNIO RAMOS ROSA "TU PENSAS QUE OS CARDEAIS NÃO SE MASTURBAM, QUE NÃO
VÊM AS TELENOVELAS http://www.desoculto.com/2011/10/antonio-ramos-rosa-tu-pensas-que-os.htm
17 DE Outubro de
2010 -ANTÓNIO RAMOS ROSA, POETA DO SOL E
DA FACILIDADE DO AR, PARABÉNS ! 86 JÁ CANTAM! VENHA O SÉCULO E MAIS VERSOS http://www.desoculto.com/2010/10/antonio-ramos-rosa-poeta-do-sol-e-da.html
Sem comentários:
Enviar um comentário