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Lisboa, Lisboa, Portugal
Desoculto nocturno é abordagem de várias questões: Ora surgindo desnudado à luz do grande leão dos céus, ora sob o manto diáfono da noite, festejando a princesa das trevas, em peregrinações, onde o piar dos mochos e o grito das raposas, são as únicas vozes que quebram o silêncio milenar de canadas e penedias, nas quais ritos e mistérios ancestrais, ainda vagueiam à solta - Envergando várias túnicas, desdobrando-me em múltiplas personagens - Ou é privilégio do poeta dos heterónimos, que só discorreu à mesa dum café ou acastelado em sua“aldeia”?..Sei que posso correr o risco de não ser tomado a sério: mas que fazer? . - Dizia-se de Florbela Espanca, que os poetas e os profetas “usam disfarces que os tornam semelhantes a tudo o que os cerca”- Quando criei este site, foi apenas a pensar nos chamados fenómenos do mundo paranormal: relatos pessoais, consequência da minha adolescência, em sabates noturnos?!.. Ou fruto de solitárias e longas experiências marítimas em calmos e tempestuosos mares?!.. Estas as interrogações que pretendi aqui abordar. Afinal, cedo constatei ser-me difícil passar indiferente à análise e à reflexão, ocasionalmente, de outros fenómenos e temas da actualidade

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

António Ramos Rosa - Hoje 89 anos, se fosse vivo - Mas "há momentos em que a consideração da morte se impõe como a consumação prévia da finitude" - O grande poeta e bom amigo que aqui hoje voltamos a recordar





António Ramos Rosa , nasceu em faro, a 17 de Outurbo de 1924 - Faleceu no passado dia 23 de Setembro. Completaria hoje , 89 anos, se fosse vivo. Mas não foi esse o destino que os seus versos lhe reservaram nos céus - Quiseram que partisse com a chegada do Outono - Ou não será essa a estação do ano mais inspiradora dos poetas? ...Sim, porque, sabe-se  lá se por um gesto premonitório, eis porque lhe foi prestada uma singela homenagem, por iniciativa do autor destas linhas, a que aludi noutra postagem, junto ao altar sacrificial de um majestoso calendário solar pré-histórico, justamente na celebração do Equinócio do Outono, ou seja, na véspera da sua partida para a eternidade . 

Pois bem: de novo aqui estou, recordando esse grande poeta e saudoso amigo, que me deu o prazer de me receber, por várias vezes em sua casa, algumas das quais no dia do seu aniversário - E hoje até poderia ser um desses dias, se fosse vivo - Porém, não foi isso que estava escrito nas constelações, nas mais longínquas nublosas que fazem parte do seu léxico poético

SIM, PORQUE...

Há momentos em que a consideração da morte de impõe como a consumação prévia da finitude, uma espécie de coroação interna num vácuo de aspirações e de projectos. Inverte-se assim o movimento natural do ser para a vida e a sua tensão para o futuro, mas, na extrema negatividade, é ainda uma plenitude que se procura, a plenitude negativa, a plenitude do vazio na cratera negra da negação aceite e assumida como possibilidade última mas também primeira porque a partir da redução do zero. O ser constrói-se ou tenta construir-se no reduto que lhe resta após tantos assaltos e agressões internas e exteriores. A imaginação da morte é incapaz de figurar a inimaginável destruição mas a sua ponderação pode fortificar  uma afirmação negativa do ser como único na sua projecção circular e incessante em torno do núcleo que é ele próprio e fecha  e o alvo da imóvel viagem da existência.


Do livro "O Aprendiz Secreto" de António Ramos Rosa




Morreu um poeta mas não  a sua palavra - 

IMPOSSÍVEL GRITO 

Se eu pudesse caminhar com palavras lentas sóbrias 
E se eu pudesse falar-te ou gritar 
Como um vento selvagem 
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar 
Aqui onde escrevo e nada principia 
Aqui onde o embate é nulo contra o bloco 
Onde se cerra o muro onde a ferida não fala 

Nenhum impulso emerge do ilimite vazio 
Nenhum punho se ergue entre as pregas do abismo 

Se escrevo ou falo ainda é o mutismo que fala 
Se olho é através de um não olhar 
Se prossigo sei que a minha sede é vã 
Onde estou é aquém de toda a origem 
Onde estás é além de todo o encontro 

E todavia escrevo terminando onde escrevo 
Sem o gérmen que abriria o diálogo da água 
Sem a dissonância viva de quem está ainda algures 
Emparedado 
E crê que um grito alguém ainda o ouviria 

E todavia se escrevo é porque talvez espere 
Avançar entre os muros para uma praia secreta 
Que um sinal ilumine este deserto de cinza 
Que uma pergunta abale este bloco inamovível 

Se eu pudesse falar-te através desta espessura 
Se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar 
Oh quem pudera gritar como o vento selvagem 
Quem pudera desatar o nó oculto sempre 
O nome oculto sempre! 

Fui eu que enterrei o meu nome sob a pedra 
Fui eu que me enterrei para sempre sob o nome 
Todo em mim é ausência ou um contacto vão 

Por isso tu não me vês e eu não te vejo a ti 
Mas se eu te escrevo ainda estas palavras nuas 
Estas palavras mais pobres do que a sombra vazia! 

Não será este caminho uma forma do grito? 

Aqui onde escrevo algo principia 
Aqui o embate contra um bloco negro 
Aqui se abre um muro aqui a ferida fala 
Aqui designo a pedra da asfixia 

A forma desgarrada de um grito flutua 

(António Ramos Rosa)

NO DIA EM QUE FOI HOMENAGEADO NO TEATRO D. MARIA










Dezenas de pessoas juntaram-se ontem no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, numa homenagem a António Ramos Rosa. O poeta, tido por muitos como um dos maiores na literatura nacional, comemorou 82 anos.

O jovem que um dia queimou os versos que escreveu é agora poeta maduro, reconhecido pela obra e admirado pela forma como transforma palavras em versos. 



António Vítor Ramos Rosa nasceu em Faro em 1924. Mudou-se para Lisboa logo após a II Guerra Mundial. Deu aulas de Português, Francês e trabalhou como empregado de escritório. Cedo abandona o emprego, para se dedicar inteiramente à actividade literária. 



Ensaísta e tradutor, diz que escreve pela necessidade de quem procura um espaço de libertação. Foi fundador de várias revistas e muitos dos poemas que escreveu estão publicados fora de Portugal. 



Ramos Rosa é autor de uma obra com dezenas de títulos, iniciada em 1958. Entre os vários prémios que recebeu destacam-se o Prémio Pessoa, em 1988, e o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (APE), no ano seguinte. 



Este ano, foi galardoado com o prémio de poesia do PEN Clube Português pelo livro "Génese".




UNS DIAS ANTES – 06/10/2006 - NOTÍCIA DO PÚBLICO
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-O escritor, galardoado esta semana com o prémio de poesia do PEN Clube português pelo livro "Génese", será homenageado com o espectáculo coreográfico " Rosa de Papel".

A sessão comemorativa inclui ainda uma mesa redonda, com a presença do autor e dos escritores Urbano Tavares Rodrigues, Gastão Cruz, Casimiro de Brito, João Rui de Sousa, Hélia Correia e Pedro Mexia.

Nesta cerimónia, que decorrerá no teatro D. Maria II, em Lisboa, serão interpretados dois poemas de Ramos Rosa por Amélia Muge e lançado o nono número da revista "Textos e Pretextos" inteiramente dedicado ao poeta.

A revista é editada pelo Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

(…)  Entre os vários prémios que já recebeu destacam-se o Prémio Pessoa, em 1988, e Grande Premio da Associação Portuguesa de Escritores (APE), no ano seguinte. – Excerto  Teatro Nacional D. Maria II presta homenagem ao poeta Ramos Rosa








NOTÍCIA DA SUA MORTE
PÚBLICO - “Morreu esta segunda-feira em Lisboa, aos 88 anos, o poeta e ensaísta António Ramos Rosa, um dos nomes cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, autor de quase uma centena de títulos, de O Grito Claro (1958), a sua célebre obra d breves publicado em 2012. Exemplo de uma entrega radical à escrita, como talvez não haja outro na poesia portuguesa contemporânea, Ramos Rosa morreu por volta das 13h30 desta segunda-feira, em consequência de uma infecção respiratória, em Lisboa, no Hospital Egas Moniz.e estreia, até Em Torno do Imponderável, um belo livro de poemas 

Além da sua vastíssima obra poética, escreveu livros de ensaios que marcaram sucessivas gerações de leitores de poesia, como Poesia, Liberdade Livre (1962) ou A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979), traduziu muitos poetas e prosadores estrangeiros, sobretudo de língua francesa, e organizou uma importante antologia de poetas portugueses contemporâneos (a quarta e última série das Líricas Portuguesas). Era ainda um dotado desenhador.

Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa, natural de Faro, recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários portugueses e vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como tradutor. – Excerto de António Ramos Rosa (1924-2013), uma vida dedicada à poesia .


Todas as imagens são  do autor deste  site

OUTRAS POSTAGENS DEDICADAS AO POETA

23 de Setembro  2013 - António Ramos Rosa - Morreu o Poeta da Festa do Silêncio que se fez Felicidade do Ar e da Luz http://www.desoculto.com/2013/09/antonio-ramos-rosa-morreu-o-poeta-da.html
21 DE JANEIRO DE 2013 ANTÓNIO RAMOS ROSA - UM CAMINHO DE PALAVRAS http://www.desoculto.com/2013/01/antonio-ramos-rosa-um-caminho-de.html
22 de Outubro de 2011 - ANTÓNIO RAMOS ROSA "TU PENSAS QUE OS CARDEAIS NÃO SE MASTURBAM, QUE NÃO VÊM AS TELENOVELAS http://www.desoculto.com/2011/10/antonio-ramos-rosa-tu-pensas-que-os.htm


17 DE Outubro de 2010  -ANTÓNIO RAMOS ROSA, POETA DO SOL E DA FACILIDADE DO AR, PARABÉNS ! 86 JÁ CANTAM! VENHA O SÉCULO E MAIS VERSOS http://www.desoculto.com/2010/10/antonio-ramos-rosa-poeta-do-sol-e-da.html

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