(Actualização) Dois anos depois, lá se voltou a pôr a fonte a funcionar - Não vamos alterar o texto mas não deixamos de nos congratular pelo facto do município, finalmente, ter metido mãos à obra e recuperado o que já parecia ter caído no esquecimento -
A FONTE DE LISBOA SECOU! - JÁ TEVE ÁGUA E CHAMOU-SE DE "FONTE LUMINOSA" - SITUADA NUMA ALAMEDA QUE TEM O NOME DO FUNDADOR DA NACIONALIDADE PORTUGUESA. MAS TAL É O ABANDONO A QUE FOI VOTADA, QUE AGORA LEMBRA UMA FONTE DOS ANTIGOS CASTELOS QUE NOS LEGOU O HISTÓRICO REI DOM AFONSO HENRIQUES
Lisboa cidade antiga, és o berço de embalar! Canta-me uma cantiga das que tu sabes cantar"... Lisboa alfacinha, cantada por poetas e fadistas - e até por ela própria, pois Lisboa é uma canção - sim, todo esse singular encanto e tranquilidade, parece ter passado à história, foi noutro tempo, mas não creio que seja agora - Pelo menos com a mesma emoção e o mesmo sentimento de um outro passado - A mordaça da censura e da ditadura, fez muitos estragos, e não só em Lisboa, em todo o país e por todo o império colonial, mas as ruas e o seu casario, as suas belas igrejas e belos monumentos, seu fabuloso património arquitectónico e histórico, só o terremoto de 1775, muito do qual lho haveria de tragicamente destruir. Porém, a alma alfacinha, a única coisa que lha poderá trair ou amachucar - ou até ferir de um golpe fatal - só se for o desprezo e a incúria dos homens - Isso parece-me, hoje em dia, bastante mais patente, que no tempo em que eu era criança, em que a conheci. E não devia ser assim, porque hoje existem outros recursos técnicos e outros conhecimentos científicos, que não havia naqueles anos. O que me parece não existir é humanismo e interesse pelo bem-estar do próximo. São virtudes que tendem a escassear.
Vejam bem... uma cidade sem casas de banho públicas. Você era capaz de viver numa casa - por mais modesta que fosse - dispensando uma pia?... Isso era noutro tempo em que, lá pelas recônditas aldeias, tal exigência era um luxo e qualquer recanto ou por trás de uma parede, servia. Mas numa cidade?!...
Se alguém precisar de urinar, de duas uma: ou o faz na rua ou tem de ser forçado a entrar num café - e é feio se apenas vai usar a casa de banho e não faz alguma despesa. O pior é que há mais quem ande com os bolsos vazios de que com eles cheios e, por essa razão, sinta vergonha de lá ir apenas para mijar. Se for de noite, qualquer canto serve, mas de dia, há sempre alguém a passar ao lado ou por perto.E nem toda a gente tem a mesma coragem. Então, no Bairro Alto, chega a ser animalesco!
É uma autêntica imundice às escancaradas aos fins-de-semana - e, quando as ruas começam a ficar desertas, soltam-se cheiros a urina por todo o lado, há sítios onde tresanda uma atmosfera verdadeiramente insuportável e pestilenta!... Por vezes, quando ali volto – e só raramente o faço - pois correm-se riscos desnecessários e o ambiente está muito descaracterizado!... Mesmo assim, uma vez por outra dou lá um giro - Mas rápido. Como que a recordar os verdes anos da minha adolescência, quando ali era marçano e calcorreava as ruas e vielas, de caixote às costas, subindo as estreitas escadas, levando as compras a casa dos clientes: - bastava ter comprado um simples quilo de arroz ou de feijão, lá tinha de ir o escravizado marçano a levar-lhe o artigo. Embora não tendo saudades dos tempos em que fora usado como escravo, tenho-as daquele ambiente familiar, pacato e pacifico que lhe conheci, em que todos os moradores do bairro, praticamente se conheciam e cumprimentavam. Havia por lá prostitutas – e até houve por lá várias casas de prostituição oficializadas. Mas cada um fazia a sua vida. Era raro quem ousava fazer desacatos e alterá-la. Rufia que o fizesse, tinha logo a policia à perna.
Quando por ali me empreguei numa das tradicionais mercearias, que agora já quase não existem, não notei grandes diferenças do ambiente pacato da minha aldeia: havia era muito mais gente. Mas vi que só se distinguia das aldeias por ser mais populosa. Ainda existia uma mentalidade muito provinciana dominada pela ditadura Salazarista e pela igreja.
Já uns largos meses que não vou àquele bairro. E não estou a pensar fazê-lo tão cedo - A minha casa é um modesto águas furtadas, mas tem uma coisa boa, um excelente terraço, onde posso apanhar banhos de sol desde que nasce até que se põe. E não quero outra coisa. O pior é que passo mais tempo a escrever no interior de que apanhar sol. Este Verão ainda não senti coragem de ir revisitar aquele velhinho bairro. Mas a verdade é que, sempre que lá volto, se não for lá durante o dia, fico de tal maneira frustrado e decepcionado, que, pouco depois, no que penso é ir-me embora, rapidamente: já nem sequer dou por concluída a imaginária viagem ao passado, não tardo a desandar e a virar-lhe as costas. - Para só lá voltar, depois de me ter esquecido das cenas que vi e dos cheiros incomodativos de que me apercebi.
Não tanto por aquela algazarra, há muita gente aglomerada, o que torna, o ambiente ruidoso.. Quem se sente nas suas quintas, são vendedores da droga, às descaradas em cada esquina. Bom, mas também só a consome quem quer - E duvido que a repressão seja o melhor caminho.No meu ponto de vista, o pior é o gamanço.
Os furtos abundam, e, em qualquer momento, se pode ser surpreendido. A mim já me sucedeu - e foi em pleno dia - ali junto ao semáforo, quem sai do Largo Camões e atravessa a Rua das Flores.
Enquanto aguardava pelo sinal verde, apercebi-me de que alguém se aproximava de mim e me dá simultaneamente um pequeno encontrão. Foi o truque utilizado para me meter a mão na bolsa que trazia a tiracolo - mas ia aberta; tinha acabado de levantar 20 euros numa caixa de multibanco e esquecera-me de a fechar - E saca-me de lá a carreira. Tive logo o rápido pressentimento de que ma haviam palmado naquele instante. E, antes de atravessar a rua, olhei para trás e vi um indivíduo que caminhava a passos largos para a loja dos trezentos. Esperei, pois compreendi imediatamente a estratégia: vi logo que ele preferira não arriscar atravessar a rua, sem primeiro ocular a carteira. Quando o vejo sair, dirijo-me a ele e peço-lha: ficou sem fala e de tal maneira surpreendido, que não teve outro remédio que ma devolver e ir procurar melhor oportunidade.
Calculo, o incómodo dos moradores do Bairro Alto!... Deve haver dias de lhes deixarem os nervos completamente em franja!... Ou por ver tantos copos e garrafas pelo chão ou sobre as próprias soleiras das portas, das caixas de electricidade ou mesmo sobre os tejadilhos dos carros estacionados - Não há respeito por nada!... Porém, o que mais me decepciona e desagrada, nem é tanto o lixo acumulado, infelizmente nos grandes burgos, devido ao consumismo desenfreado, parece estarmos condenados a viver com essa lamentável realidade (aliás, houve tempos em que chegou a ser pior), mas a completa ausência de casas de banho públicas: agora, vejam: havendo milhares de pessoas a encherem completamente as ruas, bebendo e mijando onde quer que seja, não é difícil de imaginar os cheiros que por ali tresandam!... Há por ali atmosferas de um pivete ainda mais incomodativo e nauseabundo que o cheiro ressequido do mijo deixado nos caixotes de serradura dos próprios gatos!.. Mas também já me apercebi que é esse o cheiro que certa fauna procura. Se o Bairro Alto não fosse um misto de porcaria, dose de mistério e rebaldaria, talvez não atraísse tanta gente: lá de fora e de cá de dentro. Não vejo também qual a solução.Se calhar, mesmo havendo casas de banho à mão, nem por isso deixaria de haver quem preferisse mijar ao lado do parceiro e contemplar-lhe o berimbau de que urinar em lugar mais higiénico e recatadamente.. O mesmo sucede com muitos sem abrigo: eles sabem que há sítios que os podem albergar, todavia preferem a imundice.
LONGE DESSE BULÍCIO - MAS TAMBÉM POR LÁ PASSA, SÓ QUE NÃO PÁRA - HÁ UM FADISTA QUE HÁ VÁRIOS ANOS FAZ DA RUA GARRETT E DA RUA AUGUSTA, O POUSO PREFERIDO - É TONY BANZA - A QUEM LHE DEDICO ESTE VÍDEO
Quando mija um português, mijam logo dois ou três - Mas ali mijam às dúzias de cada vez e nos mesmos lugares!... Sítios há que chega a parecer que está por ali a passar o camião da lavagem, só que o cheiro não engana ninguém. Fazem das paredes dos prédios ou de outros muros e tapumes, urinóis a céu aberto. Mijando quase à compita, perfilando-se em grossos magotes ou rebanhos de carneiros(sim, as cabras também gostam de cabriolar por lá e de apanhar as suas pielas mas são mais recatadas, optam geralmente pelas casas de banho dos bares.Só quando a bebezana é extrema. De facto, para quem passe, em certos locais, a calçada escorre tal qual como se fossem os regatos deixados pelas mangueiras dos homens da lavagem. Antes fosse, pois sempre cheiraria a água misturada com o lixo, assim é o cheiro putrefacto do lixo à mistura com o do mijo - Mas que cheiro fétido, que quase agonia e mais irritante!... Para quem não esteja habituado e não vá metalizado ou preparado para fazer tais senifagens, é quase certo que vai ter o olfacto alterado e o nariz entupido e a tresandar urina e a lixo por uns dias.
É verdade que existe por um lá um lavadouro público. Só que à noite (não sei se durante o dia acontece a mesma cosia) está quase sempre fechado. O mesmo se passa noutras casas de banho públicas. Isto para já não falar das estações de comboio, onde também costuma estar tudo encerrado. - No Metro ainda houve uma ou duas, mas fechou tudo. No Parque das Nações, nada funciona. Estão todas de cadeado trancado.
FONTE LUMINOSA - GASTOU-SE UM MILHÃO E 150 MIL EUROS NA SUA REMODELAÇÃO, EM 2004 - MAS AGORA NEM PARA DAR BEBER ÀS POMBAS NEM AOS MOSQUITOS - NÃO TEM FUNCIONADO. [v*c] Lisboa (2004-10-09) » Fonte Luminosa de cara lavada
Na Alameda D. Afonso Henriques, um dos espaços mais amplos e agradáveis da cidade, com os seus tapetes de relva verde e as suas frondosas áleas, proporcionando as tão apetecidas sombras do Verão, toda aquela beleza, que é um regalo aos olhos e aos sentidos, peca por uma falha imperdoável: – Tem casas de banho para homens e para mulheres – e até razoáveis! Mas só as abrem casualmente: só se houver por lá alguma festa ou concerto. Mais das vezes estão encerradas. Padecem das mesma incúria das demais da cidade.
Então da famosa Fonte Luminosa, nem se fala. Há que tempos não se vê por para lá jorrar um repuxo de água!... Só se for os que regam a relva. E por vezes ligam o sistema de rega, com o mais absoluto desprezo para quem está por lá a desfrutar uns momentos de lazer - parece que até gozam vê-los receber o duche abrupto que não desejavam - Embora também haja quem até agradeça e não perca a oportunidade de o aproveitar.Já ali vimos de tudo.
Pois é, se alguma vez viu aquela fonte a funcionar e se sentiu maravilhado e ainda está a pensar lá voltar para desfrutar de igual prazer, é melhor desistir. Vai ficar muito frustrado. Não creio que seja por força de alguma avaria: é porque, infelizmente, gasta-se mais no que é inútil mas pode dar mais nas vistas e fazer páginas nos jornais de que naquilo que é verdadeiramente mais útil e agradável aos cidadãos.
Mesmo para quem passasse ao longo da Avenida Almirante Reis, que atravessa ao meio... Mesmo caminhando e olhado de lado, a nascente, podia assistir a uma imagem que lhe deslumbrava os olhos e todos os sentidos!.. Com os seus repuxos cruzados, que faziam autênticos arco-íris! – E então de noite, mais atraente a fonte se tornava! – Que frescura e luminosidade, de lá não irradiava, sobretudo nos dias ensolarados de Verão ou nas noites serenas e quentes desta estação! – Tudo isso, parece que já pertence ao passado.
É certo que os tempos são de crise e há que poupar e não desperdiçar a água. Mas não creio que seja pelo facto do ano ir de seca: o calor só agora aperta e as barragens ainda estão quase cheias. Claro, nos anos das secas e a forte penúria obriga a economizar e a fechar bem as torneiras, compreende-se . Não me parece que seja o caso. E é triste - sobretudo para quem mora naquela zona - deparar-se com aquele abandono, absolutamente inqualificável. O mesmo se passa, no pequeno lago que existe, no patamar de cima – está completamente seco e igualmente votado ao mesmo ostracismo.
Por esta altura, era ver por ali a criançada a banhar-se ou os namorados sentados em volta, enleados nas suas paixões assolapadas, embalados pelos sons da água a despenhar-se em cascata ou a ser projectada por vários repuxos. Até as pombas que lá iam beber... até elas, pobres aves!,,, terão de procurar outras locais – e não são tantos como isso. Dizem que é proibido dar-se-lhe comida para não se reproduzirem tanto. Mas pior de que a fome, é a sede. Já as tenho visto a competir com as crianças que se dirigem a um pequeno chafariz , que existe nas proximidade – Quase mal deita água, e quem quiser encher uma simples garrafa, terá de ter quase uma infinita paciência . Já assisti a cenas dessas, de estrangeiros que quiseram aproveitar os bancos para ali se sentarem e comerem uma bucha e, antes de o fazerem, terem de perder um tempo infinito junto do dito chafariz.
Trata-se, sem dúvida, de uma verdadeira obra arquitectónica, inaugurada pelo chamado Estado Novo, a qual - pela sua beleza singularidade - rapidamente se transformou num dos mais emblemáticos e mais frequentados logradouros da cidade de Lisboa! – E vão lá ver o estado em que se eencontra!
Houve um período em que ainda funcionava aos fins de semana. Agora nem isso. Desde há uns tempos que é uma tristeza, uma dor de alma! ..Olhar para aquelas estátuas – obra de grande recorte artístico! - , prefigurando cavalos e sereias, belas imagens petrificadas que deviam estar a ser envolvidas e cruzadas por vários repuxos e jactos de água, que foi para o que foram concebidas, pelo menos nas tardes mais ensolaradas ou, então, iluminadas por holofotes de várias cores, logo ao cair das noites estivais, pois bem, todas essas imagens, é como se já fizessem parte de outro tempo – Agora o que se vê é uma fonte – embora ainda em razoável estado de conservação - mas a qual já faz parte das ruínas de um dos castelos, legados por D. Afonso Henriques – Uma verdadeira traição ou heresia ao fundador da nacionalidade, cujo nome emprestou àquela alameda.
Houve um período em que ainda funcionava aos fins de semana. Agora nem isso. Desde há uns tempos que é uma tristeza, uma dor de alma! ..Olhar para aquelas estátuas – obra de grande recorte artístico! - , prefigurando cavalos e sereias, belas imagens petrificadas que deviam estar a ser envolvidas e cruzadas por vários repuxos e jactos de água, que foi para o que foram concebidas, pelo menos nas tardes mais ensolaradas ou, então, iluminadas por holofotes de várias cores, logo ao cair das noites estivais, pois bem, todas essas imagens, é como se já fizessem parte de outro tempo – Agora o que se vê é uma fonte – embora ainda em razoável estado de conservação - mas a qual já faz parte das ruínas de um dos castelos, legados por D. Afonso Henriques – Uma verdadeira traição ou heresia ao fundador da nacionalidade, cujo nome emprestou àquela alameda.
E, todavia, gastam-se rios de dinheiro de uma assentada, em foguetórios ou em festas, meramente sazonais. Que podem ser muito úteis aos organizadores dos concertos, aos responsáveis dos festivais, mas não creio que possam suprir o elevo de uma fonte - Bem pelo contrário, por vezes é tal a ruideira que ressoa dos altifalantes - só se for para agradar aos forasteiros - mas seguramente não agradará à vizinhança, que mais das vezes se sente perturbada e agredida com os exageros da poluição sonora – Certamente, mil vezes preferirá ouvir os sons da Fonte Luminosa, que tão familiares e característicos, já lhes eram e que hoje não passam de uma lembrança, de uma saudade.
QUE POEMA ESCREVERIA, FERNANDO PESSOA, SE AGORA RESSUSCITASSE E FIZESSE A SUA REVISITAÇÃO POR ALGUNS DOS BAIRROS TÍPICOS QUE ELE CONHECEU?.. – OUTROS, AINDA ESTAVAM EM FORMAÇÃO, MAS, A TER QUE CÁ VOLTAR, MELHOR SERIA QUE TAMBÉM OS NÃO TIVESSE VISTO.
No celebre poema, Lisboa Revisited, que escreveu em inglês, Fernando Pessoa exigia cinquenta coisas ao mesmo tempo: parecendo querer viver todas coisas de Lisboa e do mundo ao mesmo tempo, com o mesmo anseio de "uma angústia de fome de carne" De quem dorme "irrequieto, metade a sonhar"
No celebre poema, Lisboa Revisited, que escreveu em inglês, Fernando Pessoa exigia cinquenta coisas ao mesmo tempo: parecendo querer viver todas coisas de Lisboa e do mundo ao mesmo tempo, com o mesmo anseio de "uma angústia de fome de carne" De quem dorme "irrequieto, metade a sonhar"
Mas logo viu que se lhe fechavam "todas as portas abstractas e necessárias" Descortinou " todas as hipóteses que poderia ver na rua" Porém, para seu desengano, constatou ter encontrado a travessa que procurava mas não "o número da porta" que lhe haviam dado – No fundo, é a imagem que eu tenho desta Lisboa, que eu conheci aos 12 anos, mal acabei a instrução primária - Mas vamos dar a palavra ao poeta, pois, só ele, soube exprimir, melhor do que ninguém, a volúpia das suas sensações e dos seus pensamentos - Mas sobretudo dar corpo poético à sua prodigiosa imaginação.
.
Lisbon revisited (1926)
Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
Um dos heterónimos de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
(1888-1935)
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário