“Quando é que passará esta noite interna, o universo, / E eu a minha alma, terei o meu dia? / Quando é que despertarei de estar acordado? / Não sei. O sol brilha alto, /Impossível de fitar/ As estrelas pestanejam frio, /Impossíveis de contar./ O coração pulsa alheio, / Impossível de escutar. / Quando é que passará este drama sem teatro?, / Ou este teatro sem drma, / E recolherei a casa? / Onde? Como? Quando!” – Fernando Pessoa.
Desoculto nocturno é abordagem de várias questões: Ora surgindo desnudado à luz do grande leão dos céus, ora sob o manto diáfono da noite, festejando a princesa das trevas, em peregrinações, onde o piar dos mochos e o grito das raposas, são as únicas vozes que quebram o silêncio milenar de canadas e penedias, nas quais ritos e mistérios ancestrais, ainda vagueiam à solta - Envergando várias túnicas, desdobrando-me em múltiplas personagens - Ou é privilégio do poeta dos heterónimos, que só discorreu à mesa dum café ou acastelado em sua“aldeia”?..Sei que posso correr o risco de não ser tomado a sério: mas que fazer? . - Dizia-se de Florbela Espanca, que os poetas e os profetas “usam disfarces que os tornam semelhantes a tudo o que os cerca”- Quando criei este site, foi apenas a pensar nos chamados fenómenos do mundo paranormal: relatos pessoais, consequência da minha adolescência, em sabates noturnos?!.. Ou fruto de solitárias e longas experiências marítimas em calmos e tempestuosos mares?!.. Estas as interrogações que pretendi aqui abordar. Afinal, cedo constatei ser-me difícil passar indiferente à análise e à reflexão, ocasionalmente, de outros fenómenos e temas da actualidade
JOSÉ MANUEL OSÓRIO - O FADISTA QUE MAIS TEMPO RESISTIU AO TRÁGICO FADO DA SIDA - APAGOU-SE A CORAGEM E AO AMOR PELO FADO E PELA VIDA
Afinal, os homens que amam o fado e a vida, também partem - mas deixam saudades. José Manuel Osório, o doente com sida mais antigo de Portugal, faleceu em Lisboa aos 64 anos. A primeira vez que o conheci foi na Brasileira do Chiado, quando trabalhava para uma estação de rádio. Era a sua zona de eleição dos convívios e do engate. Falei com ele fugazmente. Embora simpático, pareceu-me um pouco esquivo. Fiquei com a impressão que já andava absorvido por outras preocupações. Creio que nessa altura já devia saber que tinha contraído a doença - Eu desconhecia porém esse facto. Mas não tardaria, ele próprio, a vir para os jornais e televisões a assumir e a expor frontalmente a luta em que se havia envolvido: e, pelos vistos, com toda a sua coragem e determinação. Mostrando que, os doentes da SIDA, não eram os tuberculosos ou leprosos, dos quais se devia fugir, como o diabo da cruz. Ele foi, de facto, um dos mais belos exemplos de frontalidade e de coragem - E, curiosamente, sempre com aquele ar de gaiato ou de rapaz amarotado . Ninguém diria que trazia trazia consigo um tão penoso fardo ou calvário, uma tão pesada cruz, que tão cedo começara por carregar - E não merecia esse duro sofrimento. Mas é assim o fado dos eleitos: são prendados na sua sensibilidade - e ele fora um deles - um artista multifacetado: investigador de fado, fadista e produtor de espectáculos - Mas não se livram de arrostar com as mais pesadas adversidades ou contrariedades da vida. Até que um dia se lhe apaga o coração e se cerram as pálpebras, e cedem ao destino que lhes havia sido traçado quando abriram os olhos à luz do dia. Paz à sua alma e que o seu espírito - no além da fronteira terrena - não se canse de continuar a ser o mesmo incansável andarilho
Eis o que disse dele o DN: "Estava infectado com VIH/sida há mais de 27 anos. Este ano foi distinguido com o Prémio Amália Rodrigues Ensaio/Divulgação, tendo coordenado as coleções discográficas "Fados da Alvorada" e "Fados do Fado". o especialista em fado era também membro da direcção da Liga Portuguesa Contra a Sida...
Em entrevista ao DN, há dois anos, recordou os tempos em que se começou a falar desta doença. Tempos de discriminação e desconhecimento. Mas a família e amigos sempre o apoiaram desde o início.
Em mais de duas décadas, presenciou mudanças e melhorias no tratamento que o vieram beneficiar e lhe prolongaram a vida.
Nessa altura admitia que os doentes ainda eram olhados com desconfiança pela sociedade, talvez uma das mudanças mais difíceis que marcam esta doença infecciosa. O pai do jornalista Luís Osório morreu aos 64 anos, ultrapassando largamente a fasquia que um dia colocou, que era viver pelo menos até aos 50.
Mais informação sobre o seu passado, poderá ser consultada em: -
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