Flma a irromper de eterna escuridão.
É lume a flor e a sombra amanhecente.
A terra é carne, a luz é sangue ardente.
Gira líquida chama em cada veia
E que alegria as nuvens incendeia!
Contemplai, sob os raios matinais,
O delírio e a vertigem dos cristais,
Entre cintilações, gritando e rindo,
Abrasados de luz tremeluzindo!
(excerto) Teixeira de Pascoaes
Na vida não há acasos... Mas há muitos caminhos ... E há que saber seguir por um deles...
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Esta é a segunda carta que escrevi, sob pseudónimo, para enviar ao Dr. Mário Soares, mas que acabaria por não o fazer, por ser demasiado longa - De resto, o mesmo aconteceria com outras mais cartas que posteriormente viria escrever.
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Lisboa, 24 de Janeiro de 2002
Exmo. Senhor
Dr. Mário Soares
Deputado Português no Parlamento Europeu, Ilustre Filho de Portugal
E Grande Cidadão do Mundo
Quando receber esta minha carta, decerto exclamará, ou pelo menos tem todas as razões para o fazer -: “Uma carta, tão extensa?!... Como?!...Se mal tenho tempo para escrever os meus textos e ler os meus livros!”
De facto, não me é difícil imaginar que V.Exa tem uma vida muito ocupada. Porém, se a não puder ler, paciência - Peço-lhe que aceite as minhas desculpaS pela ousadia, ou abuso de liberdade, mas, creia, sinceramente, algo me impele a dirigir-me a V.Exa., o que faço, de modo epistolar e muito respeitoso, pela segunda vez, pelas razões que adiante lhe explicarei.
A primeira carta que lhe escrevi, foi em 27 de Março de 2001, através da qual lhe anunciava algumas previsões, algo sombrias, que viriam a confirmar-se, infelizmente, conforme poderá depreender, ao referi-lhe textualmente o seguinte: “penso que o ano 2OO1, (ironia das ironias, o tão badalado e o tão profetizado Ano da Odisseia do Espaço), vai ser, certamente, um ano para esquecer - o ano de todas as odisseias “ - E foi! - Com avultadas perdas de vidas e consequências devastadoras a nível económico e psicológico à escala mundial, ocorrência cujas imagens televisivas ainda hoje estarão bem presentes na memória de muita gente. E da qual conto voltar vir a referir-me com pormenorizada reflexão.
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Distinto Português, Notável Cidadão do Mundo:
Para quem tão empenhado vive na defesa da causa pública, e fazendo da política um verdadeiro sacerdócio em prol dos mais nobres ideários, aparentemente pouco tempo de lazer lhe sobrará para grandes devaneios, pelo que, vir falar-lhe de mediunidade e de outras coisas no género, talvez seja demasiada ousadia da minha parte. Além de que, é já conhecida a sua reserva intelectual para com estas questões de índole metafísica. De resto, também eu o sou em relação à vaga de charlatanismo e desenfreada especulação que campeia neste domínio. No entanto, como não me considero incluído no rol desse tipo de pessoas, e, muito embora sabendo à partida da fraca credibilidade de que estas coisas gozam, designadamente junto dos meios científicos e por parte dos espíritos mais cépticos, mesmo assim, tomei a liberdade de lhe escrever esta carta, ciente de que não me levará a mal a ousadia
De resto, sendo V.Exa. um cidadão do mundo, no melhor sentido do termo, tal juízo só por si me tranquiliza, já que o considero, não apenas como o cidadão que pugna em benefício do seu país e da humanidade, mas também aquele que se preocupa em aprofundar e acumular múltiplos conhecimentos e a interpretação dos mais diversos saberes. É assim que procedem todos os espíritos norteados por nobres desígnios.
E foi assim que pensou também o grande poeta e filósofo alemão, Novalis. Para quem “o homem perfeito deve viver, por assim dizer, em diversos lugares e em vários homens, simultaneamente”, reconhecendo que ao homem “é necessário que lhe estejam constantemente presentes múltiplos acontecimentos e num círculo o mais vasto. Assim, se forma, então, a verdadeira e geradora presença de espírito - que faz do homem um verdadeiro cidadão do mundo e o estimula e o fortalece em cada momento da sua vida, através das mais benéficas associações e o coloca na clara disposição de uma actividade lúcida.”
Sim, creia, o Além de que lhe venho falar, não é de um lugar determinado, não é de um outro mundo, que se encontre abaixo da terra ou no alto dos céus ou mesmo que se situe paralelamente ao nosso, não é o mítico e fabulado mundo dos espíritos: é tão somente daquele mundo que está para além da nossa compreensão e das nossas percepções vulgares - Pois, quer o chamado mundo invisível, quer o que nele é tido como visível, interpenetram-se. Mais do que possa parecer, estamos mais ligados ao mundo invisível do que ao chamado mundo da matéria e do real. Por exemplo, se olharmos para a aparência de uma pessoa, à primeira vista, o que é que retemos? Obviamente, esta ou aquela particularidade do seu aspecto físico. Mas, pergunto: haverá alguém que olhando, com olhos de ver, e, numa segunda observação, não lhe descubra, algo mais do que meros sinais físicos? Pois bem, no fundo, é justamente o que eu procuro percepcionar: ou seja, o outro lado das pessoas, da vida, das coisas - Mas, não só. Há em mim também um objectivo bem determinado, como aliás, existe em todos os espíritos inquietos e inconformados, e creio também em V.Exa: o permanente desejo de saber quem somos, donde vimos e para onde vamos?.. – O de questionar os intrigantes mistérios da origem da vida, que portas se poderão abrir para além da morte – que passagem se poderá escancarar para irmos ao encontro da existência ou não de Deus.
Esta é, sem duvida, a grande interrogação que me persegue: - ir em demanda de uma resposta - Que é, no fundo, a mesma que buscam todos os espíritos sensíveis, aqueles que não se rendem à tal triste realidade de serem felizes, apenas porque sentem que vivem e esperam tranquilamente a morte. Ou, como dizia Pessoa: “Triste de quem é feliz! / Vive porque a vida dura. / Nada na alma lhe diz / Mais do que a lição da raiz - / Ter por vida a sepultura.” – Claro que não! O mistério da vida é demasiado maravilhoso, para finar-se na sepultura.... Se uma maravilha termina, é porque uma outra maravilha principia... Se há um mundo infinito, é porque há uma vida infinita.... A sua inter-relação é interminável... E não consiste apenas no aparente fenómeno da reprodução da espécie... É algo mais vasto e inexplicável...
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Feito o esclarecimento, permita-me, então, que lhe diga, com toda a sinceridade: sim, assumo-me como médium e vidente - Talvez esta definição soe a bruxo, a charlatão, mas também não encontro outra senão aquela – Obviamente que não falo com os mortos, mas ouço ou vejo coisas que os vivos já pronunciaram ou fizeram enquanto não chegou a sua hora. Além disso, através de sonhos premonitórios, ou através de súbitas visões em plena vigília, vejo factos e acontecimentos, ainda não ocorridos, tal como outros, há muito, volvidos, aparentemente esquecidos na poeira do tempo. Vejo, por vezes, tudo à minha volta, tal qual como se estivesse debruçado sobre uma imensa janela, que me tivesse sido subitamente escancarada, para toda a parte, para o infinito, sem barreiras de espaço, de fronteiras ou de tempo.
E, a propósito, vou-lhe contar um episódio relacionado com o seu filho João - Sim, o que lhe vou descrever, ocorreu-me na década de oitenta, e, pelos vistos, teve algo de premonitório. Há pormenores que já me escapam, ainda assim, tenho bem presente a visão que então me ocorreu. Subsistem imagens, que ainda as retenho, muito nítidas na minha memória – Sim , numa certa noite, acordei em sobressalto –E por causa de um estranho sonho! Em que vi o seu filho João, num deserto, algures em Angola, envolvido por remoinhos amarelos e vermelhos de areia, enlameado em óleo e poeira, esfarrapado, sangrando na cabeça e na face, contorcendo-se de horríveis dores do corpo, muito aflito. Porém, curiosamente, nunca o vi prostrado, desfalecido, vi-o sempre muito lúcido, extremamente consciente do seu estado e da sua precariedade. À volta, descobria-se um grande descampado, troncos ressequidos e nus, e, por perto, até se descobria uma toalha de água. Porém, era água a que ninguém podia chegar - pelo que, por esse motivo, grande era o suplício, uma vez que todos davam sinais (os sobreviventes) de, além de se contorcerem de horríveis dores, estarem mortificados por horrível sede! Visto que, a imagem que emergia, daquela imensa toalha, era tão só a visão de um horrível brilho estranho, terrivelmente próximo, mas ao mesmo tempo, inatingível, como se fosse a estranha miragem de um vasto deserto! Por outro lado, o único sítio que estava nitidamente iluminado, era o sítio onde ele se encontrava a aeronave destroçada, parecendo estar iluminado por uma luz muito clara, muito branca, que, de tão esquisita, nem parecia ser luz do dia, nem da prateada luz da Lua - Era estranhamente alvacenta e ao mesmo tempo penúmbrea, própria de uma atmosfera onde pairava a tragédia!.. De tal maneira tudo aquilo me impressionou, que, logo a seguir, acordei em sobressalto, custando-me a acreditar que tudo aquilo não passasse apenas de um horrível pesadelo.
Na manhã do dia seguinte, desabafei com pessoa minha amiga, no local de trabalho, a quem contei o dito sonho, e a quem disse, preocupado: Não sei onde é que o Dr. João Soares andará, mas tenho a impressão de que algo de arriscado ou de grave, se terá passado ou se vai passar com a sua vida. Dois dias depois, os media noticiavam que tinha ficado gravemente ferido na queda de um helicóptero, no Sul de Angola. Quando ouvi a notícia na rádio, imediatamente associei a dita notícia ao tal esquisito sonho, e, creia, o meu pensamento foi o de me dirigir a Deus para que o protegesse e lhe concedesse as melhoras de que carecia. Felizmente, Deus esteve sempre a seu lado.. Apesar da gravidade do acidente, a sua estrelinha, iluminou-o – - E, oxalá, assim o conduza pela vida fora, por bons caminhos e a degraus cada vez mais elevados na sua carreira - Até porque, quem, em prol da paz, a sua vida pôs em tão sério risco, efectivamente, é merecedor de que o futuro o premeie à altura de um grande sonho... E sendo, ainda jovem, o importante é que nunca perca de vista a linha do horizonte. Aliás, ele, João Soares, é um Homem de Elevados e Nobres Objectivos!
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Noutro passo desta minha carta, espero contar-lhe outras das minhas premonições e experiências - De que julgo ter tido já vários testemunhos. Ou seja, numa área ainda algo envolta por uma densa neblina para muita gente - Porém, dia virá, estou certo, em que muito desse espesso véu se dissipará, proporcionando ao homem possibilidades incomensuráveis, até agora ignoradas, no alargamento das suas percepções extra-sensoriais e de um leque mais vasto na compreensão e no uso da sua própria linguagem.
A minha profissão, todavia, nada tem a ver com estas faculdades, a que me refiro, que não desejo ver misturadas publicamente. Daí esta minha carta ir assinada sob pseudónimo e com morada ilegível e fictícia, que é como eu tenho procedido com as demais cartas que já enviei a outras personagens Faço-o, pois, recolhido e silencioso, sob o o signo do mais estrito anonimato e descrição. Nunca pretendi nem pretendo tirar qualquer proveito, seja a que pretexto for. Aliás, como poderia eu aproveitar-me? de uma coisa que só se me revela, praticamente, quando menos o espero ou através de um pensamento que parte em demanda de uma espécie de mar desconhecido, quase da mesma maneira que um barco à deriva na imensidão do oceano!... – Se bem que estando certo de que exista um farol iluminado ou um qualquer porto de acolhimento, algures, em qualquer ponto oculto do horizonte! É um condão; uma faculdade, algo anormal e para o qual concorrem factores e acasos, alheios à própria vontade, ao querer humano, que escapam ao meu controlo e à minha própria compreensão, pelo que, ao revelarem-se-me, o que me resta, é tão só deixar discorrer a mente e tentar decifrar e teorizar tudo aquilo que à mesma aflorar, sob profunda reflexão ou por livre afloramento espontâneo -
Tenho exercido uma outra actividade, e publicamente, na qual julgo que fui sempre respeitado. Não gostaria , pois, de associar as duas coisas. Por isso, se tiver a bondade me ler, desde já lhe agradeço a gentileza da sua compreensão. – Mesmo não tendo a certeza que vai ter tempo de o fazer - No entanto, mesmo assim, não dou por perdido o meu tempo. E, muito embora, crente de o que acabo de lhe escrever é ainda muito pouco para o muito que penso que tenho para lhe revelar. Contudo, creia,, é realmente inexplicável a sensação de me estar a dirigir a um espírito altamente elevado e generoso - Não me vê, não me ouve; nem eu falo com ele nem ele responde a qualquer das minhas questões. Mas há um elo qualquer que se estabelece – Subsiste a reconfortante propensão que caracteriza os espíritos esclarecidos ou reflexivos, que os leva (mesmo quando não têm um interlocutor à sua frente) a aproximarem-se de outras fontes de comunicação no espaço invisível. E, neste caso, dirigindo-me a alguém a quem Deus concedeu a graça para o cumprimento de uma missão única, profética, especial. Não duvido! V. Exa consubstancia a génese, a essência, a quem, num período histórico da vida nacional, particularmente conturbado e difícil (quer antes, quer depois da revolução de Abril), coube a espinhosa missão de ser o verdadeiro salvador da pátria portuguesa - intervenção sem a qual, tudo seria bem diferente: e para o pior! Felizmente, a derrocada não se consumou - muito embora o abismo estivesse à beira disso acontecer . Isto porque, no horizonte, então densamente ensombrado, reapareceu, na hora exacta, no momento certo, um espírito providencial, de elevada craveira, de seu nome Mário Soares.
Pela sua impagável dádiva, oxalá todas as divindades o abençoem, lhe proporcionem ainda muitos e frutuosos anos de vida, que o seu belo exemplo frutifique, nunca tenha sido em vão!
No entanto, atente bem nestas minha palavras amigas! Cuidado com as tentações de ir mais além do que o destino lhe reservou! – Já lho disse na minha anterior carta que há um tempo para tudo. E o seu tempo agora é do quem se prepara para colher tranquilamente alguns dos frutos das muitas árvores que plantou e vai ao celeiro da sua memória dar a conhecer à comunidade, em que viveu, o muito da riquíssima experiência que acumulou ao longo de uma vida de luta e até do pesado sacrifício no cárcere e de ter sido forçado ao exílio.
Chegado ao fim desta minha carta – e por ser tão longa - , se calhar o mais certo é não lha enviar e opte por por continuar a escrever-lhe, tendo-o apenas como uma admirável referência através desta singular expressão, de carácter eminentemente espiritual e epistolar.
Mas, para já, o momento é o de lhe desejar que as sagradas bênçãos astrais o abençoem e o protejam de todo o mal de inveja e de tudo o que não seja para o seu bem!
Grande Foco, Força Criadora, Vida do Universo,
Luís de Raziel – Vidente Vara de Deus.
Mário Soares – Wikipédia
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