Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Lisboa, Lisboa, Portugal
Desoculto nocturno é abordagem de várias questões: Ora surgindo desnudado à luz do grande leão dos céus, ora sob o manto diáfono da noite, festejando a princesa das trevas, em peregrinações, onde o piar dos mochos e o grito das raposas, são as únicas vozes que quebram o silêncio milenar de canadas e penedias, nas quais ritos e mistérios ancestrais, ainda vagueiam à solta - Envergando várias túnicas, desdobrando-me em múltiplas personagens - Ou é privilégio do poeta dos heterónimos, que só discorreu à mesa dum café ou acastelado em sua“aldeia”?..Sei que posso correr o risco de não ser tomado a sério: mas que fazer? . - Dizia-se de Florbela Espanca, que os poetas e os profetas “usam disfarces que os tornam semelhantes a tudo o que os cerca”- Quando criei este site, foi apenas a pensar nos chamados fenómenos do mundo paranormal: relatos pessoais, consequência da minha adolescência, em sabates noturnos?!.. Ou fruto de solitárias e longas experiências marítimas em calmos e tempestuosos mares?!.. Estas as interrogações que pretendi aqui abordar. Afinal, cedo constatei ser-me difícil passar indiferente à análise e à reflexão, ocasionalmente, de outros fenómenos e temas da actualidade

terça-feira, 1 de novembro de 2011

HALLOWEEN QUE MARAVILHOSA A NOITE! NO ANTIGO SOLAR DO VALE CHEÍNHO -GRUPO DE AMIGOS QUIS SABER PARA ONDE EU IA , SÓ QUE A ONDA DELES NÃO ERA A MINHA








.










.






Não havia luar mas a noite estava escura, o céu coberto de nuvens e não se viam as estrelas - Mas a noite era de um Outono ameno e convidava a andarilhar por antigos caminhos romanos e a devassar os seus mistérios.



E foi justamente o que fiz: - saindo de casa depois da meia-noite, tal como convinha - Para mal dos meus pecados, levara comigo o telemóvel - e não tive outro remédio senão atender dois telefonemas de um amigo (depois tive que o desligar) que, embora estando na sede do concelho, insistia em levar com ele mais uns três amigos para me ouvirem tocar o jambê. E não só.. Pelo que depreendi, o tema de conversa no Café do Zé Pilério, tinha sido o das bruxas: ele encontrou um antigo medalhão, que tem a ver com os antigos cultos pagãos e vai da conversa descambar para o assunto do dia. Queria que me armasse em bruxo, como se, certas faculdades, que surgem ocasionalmente como flashes, estivessem à mão de semear todos os dias. Ele contara lá o episódio, que a seguir aqui vou recordar, e insistia em demonstrar-lhes a veracidade do fenómeno.














.
.


O Dr. Jorge Castro Lopes é um bom amigo de longa data - É nativo Peixes - e, como genuíno filho de Neptuno, o Deus da inspiração e da sensibilidade, também ele sente uma inata curiosidade para a chamada fenomenologia do ocultismo e do paranormal - Ele trabalha e reside próximo da cidade do Porto, mas vai regularmente à sua terra - uma pequena cidade da província. Eu vivo em Lisboa, e também, sempre que posso me desloco à minha aldeia - Por isso, e como já lhe falei das minhas peregrinações nocturnas pelos montes, quis saber algo mais sobre o assunto. Numa ocasião, apostei com ele de que era capaz de fazer um determinado percurso mais rápido de que ele no seu jipe - Já passava da meia-noite e não havia luar.

.












.













Pedi-lhe que me desse apenas um avanço de 5 minutos,
garantindo-lhe que era capaz de (por caminhos e atalhos) chegar mais depressa ao Vale dos Areais, junto ao cruzamento da EN. 102 - É que, do planalto, até lá lá ao fundo, com as curvas e as contracurvas da estrada alcatroada, ainda são 4 Km - Enquanto, se se for pelos atalhos e alguns troços do milenar caminho romano, a distância é bastante mais encurtada - Só que, como, raramente, alguém ali passa e, parte deles, já estão quase transitáveis, não faltam silvas, ervas e giestas a dificultar a passagem. Mesmo assim logrei chegar primeiro de que ele.

Ora, isso aconteceu naquele dia - porque estava inspirado - Mas nada agora me garante que possa voltar a dispor (para efeitos de aposta) de idêntica volatilidade e inspiração. É tal qual como a poesia nos poetas ou a prestação de um atleta numa pista de corta-mato ou de um jogador num campo de futebol: nem sempre a predisposição física e mental, é seguramente a mesma. Por isso, e também porque, nessa noite, gostava de estar sozinho, obviamente não acedi prestar-me a qualquer outro tipo de incursão nocturna, que não fosse ir ao encontro de um certo devaneio espiritual, que, mais uma vez, me iria conduzir aos meus tempos de criança, quando tomara parte no culto da Irmandade do Anjo da Luz, o anjo que surge nas noites de céu estrelado ao irromper a Estrela da Manhã - Mesmo assim, vim a saber que o voluntarioso grupo noctívago ainda foi de carro até à Quinta do Monte - Situada, lá para os alto da margem esquerda do Côa, por lugares já afastados da aldeia - Aí é a área do xisto, eu andava pelos morros do granito. Estiveram, pois, longe de imaginarem o meu verdadeiro itinerário.


.

.ALÉM DO LATIDO DAS RAPOSAS, APENAS SE OUVIA O PIAR DOS MELROS NOS SILVADOS E DAS NOITIVÓS NAS CARRASQUEIRAS E NOS ESCASSOS OLIVAIS

Mesmo assim, não há como as noites da Primavera - quando a passarada nocturna, parece também deliciar-se com os perfumes da amendoeiras e de outras flores silvestres ou delirar com a sinfonia que soa da água a correr nas pequenas cascatas dos ribeiros. Em todo o caso, era uma noite de Outono e, estas, com os seus matizes de aguarelas (pelo menos enquanto não arrefecem aos graus negativos), também têm o seu encanto e a sua magia... Eu já por ali andei - em noites de Inverno - com o chão coberto de gelo, como se estive coberto de neve. Também não me importo. Só se tem frio parado.

Depois de ter feito uma breve visita ao antigo forno - onde ainda se encontram alguns dos velhos ícones da ancestral irmandade - detive-me pelo terreiro a tocar alguns sons de jambé - Oh! e que coisa mais solene e fantástica!... Como aqueles sons me transformavam e elevavam a mente!...

Tenho quatro tambores na centenária casa que era dos meus pais (agora está desabitada e fico lá apenas por favor)pois, como é compreensível, só posso levar um de cada vez- São de vários tamanhos e de sons diferentes. Também disponho de um búzio, com o qual inicio e termino as minhas noites mágicas, envergando as minhas túnicas.










Uma noite fui lá surpreendido a tiro: ocorreu em Agosto e há meia dúzia de anos. Um grupo de indivíduos, vindos das Quintãs (uma aldeia situada ao fundo da canada, já quase sobre o Vale da Quinta da Veiga), encheu-se de coragem (se coragem é pegar em armas e disparar!...) e vai de se deslocar até àquele solar

A noite já ia alta e muito escura, sim, mas não muito para lá da meia-noite - Talvez uma da manhã. O caminho velho é pedregoso, e, mesmo estando a tocar o tambor, apercebi-me de que havia passos a caminhar por ali perto. Antes de ser surpreendido, decidi descer pelo muro das traseiras (para onde, de resto, estava voltado) e retirar-me - Qual não foi pois o meu espanto: de lado algum soa o mais leve rumor ou voz, no entanto, é seraivada atrás de seraivada.!... Desde a tiros de pistola aos de espingardada: mal se aproximaram da entrada do enorme portal, toca de disparar a torto e a direito a metralha para o interior do terreiro .

Porém, com a mesma rapidez com que chegaram, assim dispersaram. Mais tarde vim a saber que o grupo , que protagonizara a insólita investida, era constituído por 13 emigrantes, que gozavam as férias de Agosto - Claro que, depois do que se passou, tinha de ser mais cauteloso. Não creio que fosse pelo facto do som os incomodar - É consequência de um certo medo supersticioso, que ainda paira sobre o passado do vetusto solar - Embora sem a vida de outros tempos e já quase em ruínas, mas capaz de amedrontar, quem ali passe depois do pôr do sol.

Corre a superstição de que a dita casa está assombrada e que aparece por lá o homem do gorro vermelho (o diabo) - E também consta que, gente vinda de fora, ainda lá faz alguns rituais. Sim, parece haver um fundo de verdade nisso - talvez atraída pelas velhas lendas do solar. Mas já não são os rituais de antigamente. Creio que foi por essa razão que o grupo de emigrantes lá se deslocou munido de artilharia pronta a fogachar.

Não creio que o som de tambor, a três quilómetros, os pudesse perturbar . Pior é o barulho que se ouve quando (pelas aldeias, noite a dentro) se jogam às cartas ou se curtem valentes bebedeiras atrás de bebedeiras nos cafés ou tabernas!... - Eu não tenho por hábito nem embebedar-me nem jogar à sueca. Tenho outros gostos e outros hábitos, que hei-de eu fazer?!.. Vou ter que seguir os hábitos dos outros?!... Lá por parecerem mais normais e usuais?!...

A Rever SOLAR DOS VENTOS UIVANTES NO VALE CHEIROSO.

Sem comentários: