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Lisboa, Lisboa, Portugal
Desoculto nocturno é abordagem de várias questões: Ora surgindo desnudado à luz do grande leão dos céus, ora sob o manto diáfono da noite, festejando a princesa das trevas, em peregrinações, onde o piar dos mochos e o grito das raposas, são as únicas vozes que quebram o silêncio milenar de canadas e penedias, nas quais ritos e mistérios ancestrais, ainda vagueiam à solta - Envergando várias túnicas, desdobrando-me em múltiplas personagens - Ou é privilégio do poeta dos heterónimos, que só discorreu à mesa dum café ou acastelado em sua“aldeia”?..Sei que posso correr o risco de não ser tomado a sério: mas que fazer? . - Dizia-se de Florbela Espanca, que os poetas e os profetas “usam disfarces que os tornam semelhantes a tudo o que os cerca”- Quando criei este site, foi apenas a pensar nos chamados fenómenos do mundo paranormal: relatos pessoais, consequência da minha adolescência, em sabates noturnos?!.. Ou fruto de solitárias e longas experiências marítimas em calmos e tempestuosos mares?!.. Estas as interrogações que pretendi aqui abordar. Afinal, cedo constatei ser-me difícil passar indiferente à análise e à reflexão, ocasionalmente, de outros fenómenos e temas da actualidade

terça-feira, 18 de novembro de 2008

VERGÍLIO FERREIRA - E O QUE O AUTOR DE "O CÂNTICO FINAL", PENSAVA SOBRE A MORTE

















VIRGÍLIO FERREIRA, DISSE-ME, UM DIA, EM SUA CASA:



ESTOU CONVENCIDO QUE A MORTE É O FIM DE TUDO...MAS NÃO TENHO RAZÃO ABSOLUTAMENTE NENHUMA PARA AFIRMAR QUE DEPOIS DA VIDA NÃO HÁ NADA”


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Eu já pensei que a morte era uma a passagem para o além, para uma vida que se seguiria a esta…Aliás, quando pensei, tinha toda a aparelhagem para isso, nesse mesmo além… Haveria um céu, haveria um inferno, haveria um purgatório, etc.…Hoje estou convencido que a morte é realmente o fim de tudo… Se eu não estivesse convencido disso, naturalmente a vida e o seu absurdo não se imporiam tanto!…
Evidentemente que estas certezas não se baseiam em nada… Baseiam-se num equilíbrio interior…(…) Aliás, é em função desse equilíbrio interior que nós aderimos a muita coisa na vida…Desde a mulher que se ama à verdade da política que se segue ou o clube de futebol a que se adere, etc.… Portanto, eu não tenho razão absolutamente nenhuma para afirmar que depois desta vida não há mais nada… A única razão é esse tal equilíbrio interior….Não vou discutir com ninguém que acredito num além!… Não vou discutir com ele para lhe pretender demonstrar que ele não tem razão e quem tem razão sou eu!… Estas coisas decidem-se no íntimo de nós…sem que nós, no fim de contas, para aí metamos prego nem estopa, como se costuma dizer…Estou convencido que a morte é o fim de tudo…. Mas não tenho razão absolutamente nenhuma para afirmar que depois na vida não há nada!

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P - Nunca se se viu à beira da morte?

R - V.F. Já estive à beira da morte duas vezes!… Uma vez porque fui atropelado e estive inconsciente durante seis horas e outra vez, há dois anos, que foi quando tive um ataque cardíaco e quase passei para o lado de lá!… Estive mesmo numa situação em que a minha mulher pensou que eu ia morrer!…Porque já não tinha consciência… também porque estava a abrir e a fechar a boca, como um peixe fora da água!… Mas devo dizer que, nesse momento… aliás, quando fui atropelado não tive tempo de pensar, porque, se tive, esse pensar, apagou-se-me!… Porque, quando há assim perda de consciência - eu não sabia, mas verifiquei por mim - a memória apaga-se-nos, até, digamos, uma hora ou duas horas ou mais, antes do acidente…Não assim, quando tive o enfarte.. porque, nessa altura, eu vi a coisa a progredir justamente o nada…. Mas não tive tempo de pensar na morte!…sentia-me apenas aflito, com um mal-estar tremendo!…Era só o que me preocupava.














P - Portanto, não teve consciência de ficar assustado?

R - V.F - Não…O problemas da morte, o facto de eu me preocupar com a morte não significa que a morte me assuste… apenas tendem a confundir essas duas coisas… Uma coisa é o medo da morte outra é a intriga que a morte nos causa…. A mim…dizer que não me importava de morrer, não é verdade… importo-me tanto como as outras coisas…Mas cada vez me importo menos à medida que o fim se chega… Simplesmente, uma coisa é isso, outra é nós querermos encontrar uma resposta para esta oposição de duas realidades que se opõem flagrantemente!… De um lado a vida, com todo o seu milagre; do outro lado a morte, com todo o seu vazio!… Portanto, a intriga deste problema é que sempre me obcecou… Não é o problema do medo da morte…


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Suponhamos, por absurdo, que eu depois da morte me encontrava de facto, digamos, a viver no além, com a minha auto-consciência, etc. etc… Também não ficava surpreendido!… Agora isso, de maneira nenhuma se me impõe… O que se impõe é a ideia de que isto acabou definitivamente!… Mas, como não tenho razões nenhumas , excepto esse equilíbrio interior, que há pouco disse…pois, naturalmente, não posso ter argumento nenhum para pensar nisso…Por conseguinte, se, por absurdo me encontrasse depois da morte?!…Não sei!… Ficava um bocado interrogado, mas não ficaria assim muito admirado disso!…

Significa, portanto, que este tipo de verdades não têm nenhuma fundamental razão de ser…Claro que eu não acredito em nenhuma sobrevivência para além da morte, não acredito!…O problema intriga-me!…Mas outros acreditam que sobrevirão!… Não tenho nenhum argumento contra eles!… E eles não têm nenhum argumento a opor-se-me a mim…Toda a condução da minha vida, tudo aquilo que eu tenho que pensar, centra-me nesta certeza: realmente depois da morte não há nada…
















Anos oitenta - Em conversa com o escritor, tendo como tema - A Morte

O RETORNO AO SAGRADO

“Fala-se tanto nele, como aliás, estava previsto. Mas não no que dele mais importa e não passa pelos deuses e muito menos pelas sacristias. O retorno do sagrado deve ter que ver fundamentalmente com a recuperação da sacralidade do homem, da vida, da palavra, do mundo. A sacralidade está no que suspeitamos de mistério nas coisas, a força “original de tudo o que nos espera o nosso olhar limpo, a nossa atenção humilde, a divindade está em nós. O grande acontecimento do nosso tempo, que é o sinal do nosso desastre, é a profanação de tudo, a dessacralização do que abusivamente foi invadido pelos deuses. Os deuses morreram e quiseram arrastar consigo a morte do que era divino sem eles” in Pensar - de Virgílio Ferreira


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